Engraçado como perdemos o contato com o poder curativo das plantas, que são acessíveis a todos e desde os primórdios da humanidade são usadas para tratar de doenças e moléstias em geral. Ficamos tão fascinados com o imediatismo das drogas alopáticas que ao menor sinal de desconforto já recorremos a uma aspirina ou outro droga sintética em busca de alívio imediato.
Não estou desmerecendo a evolução da medicina e da farmacologia – hoje vivemos muito mais devido a esses avanços –, mas acho importante esse resgate do conhecimento das plantas, das “receitinhas de vovó” que são na verdade uma tradição muito mais antiga, passada de geração em geração e que encontram na natureza a resposta para grande parte de nossas aflições. Podem demorar um pouco mais para fazer efeito do que suas alternativas artificiais (que muitas vezes são apenas cópias dos princípios ativos presentes nos vegetais e reproduzidas em laboratório), mas certamente são recebidas por nosso corpo de uma maneira muito mais natural e equilibrada.
Isso foi o que me atraiu nos óleos essenciais a princípio. Aprendendo a composição de cada óleo, suas indicações e formas de aplicação, consigo eu mesma resolver grande parte dos pequenos desequilíbrios diários sem recorrer a substâncias sintéticas: má digestão, dores de cabeça, insônia, ansiedade, tensão muscular, e por aí vai. Claro que não deixo de ir a médicos e fazer os exames de rotina, nada disso! A Aromaterapia não é um substituto da medicina, e sim um complemento dela, ajudando a restabelecer a harmonia e a revitalizar o corpo.
Registros do uso de ervas aromáticas existem há milhares de anos. No Ocidente, os primeiros registros foram feitos pelos egípcios, que usavam um método conhecido como infusão para extrair os óleos de plantas aromáticas e utilizá-los desde no embalsamento de faraós à produção de perfumes, medicamentos e óleos para massagem. Usavam principalmente a Mirra, conhecida por suas propriedades antissépticas, e o Olíbano (ou frankinsence, que significa “incenso verdadeiro”), muito empregado em cultos religiosos devido ao seu aroma rico e penetrante que auxilia na conexão espiritual.
Essas gomas resinosas eram muito apreciadas no mundo antigo, sendo tão valiosas quanto gemas ou metais precisos. Não a toa estavam entre os presentes dos Três Reis Magos, juntamente com o ouro. Essas resinas e as especiarias (que nada mais são do que ervas aromáticas como Cravo, Canela, Gengibre etc) eram tão importantes que levaram ao surgimento das primeiras Rotas Comerciais entre Europa e Ásia. Na Índia, eram usadas há milhares de anos na medicina Ayuvérdica, e talvez seja o único lugar no mundo onde essa tradição manteve-se ininterrupta até hoje.
Na Grécia Antiga, era comum o uso de óleos aromáticos nas casas de banho e com fins medicinais. Soldados gregos levavam para as batalhas unguentos de Mirra para tratar ferimentos. Hipócrates, o “pai da Medicina”, utilizou um grande número de medicamentos fitoterápicos e escreveu sobre eles, com comentários até hoje relevantes para a Aromaterapia. Ele costumava dizer que “O caminho para a saúde é tomar banho aromático e receber massagem aromática todos os dias”. Os romanos herdaram o conhecimento dos gregos e também empregavam óleos aromáticos em massagens e medicamentos, porém com a queda do Império Romano esse hábito caiu em desuso na Europa. Retornou apenas séculos depois, quando as ervas aromáticas voltaram a ser usadas para proteção contra as pestes que assolavam o continente no final da Idade Média.
Até então, os óleos essenciais como conhecemos atualmente ainda não existiam. As plantas e resinas aromáticas eram usadas in natura, queimadas ou em infusões, quando a planta é mergulhada em óleos vegetais para ter suas substâncias lentamente extraídas, resultando em óleos aromáticos. Avicena, o famoso médico árabe, foi o primeiro a aprimorar o método de destilação para extrair óleo essencial puro no início do século XI. Ele usou pétalas de rosas (Rosa centifolia) em sua primeira destilação bem-sucedida e escreveu um livro sobre os benefícios desse óleo, além de dezenas de outras obras sobre medicina e ciências naturais. Ele é considerado o pai da Aromaterapia Antiga.
A Aromaterapia Moderna, como a conhecemos hoje em dia, deve-se ao trabalho pioneiro de cientistas franceses e italianos durante os séculos XIX e XX. René-Maurice Gattefossé foi o criador do termo Aromathérapie, nome de seu famoso livro. Conta-se que, em 1910, ele queimou gravemente as mãos durante um experimento e sua reação imediata foi mergulhá-las em um recipiente que continha óleo essencial de Lavanda. Gattefossé percebeu que a dor diminuiu e o processo de cura foi muito mais rápido, sem infecções e sem deixar cicatrizes. Impressionado, ele foi um dos primeiros a estudar a fundo o poder curativo dos óleos essenciais.
O Dr. Jean Valnet, cirurgião do exército francês, utilizava óleos essenciais como antissépticos para tratar de ferimentos e queimaduras graves durante a guerra da Indochina, de 1948 a 1959. Depois disso, passou a usá-los no tratamento de pacientes em hospitais psiquiátricos, e em 1964 escreveu L’Aromathérapie, obra ainda muito relevante atualmente. A bioquímica Marguerite Maury pesquisou a utilização de óleos essenciais para fins terapêuticos e cosméticos. O seu livro Le Capital Jeunesse, publicado em 1961 e traduzido para o inglês em 1964 como The Secret of Life and Youth, é hoje em dia uma valiosa fonte de consulta. Grande parte das tendências atuais na Aromaterapia tem as suas origens no trabalho de Marguerite Maury.
No Brasil, o primeiro óleo essencial a ser produzido em larga escala e exportado foi o de Pau Rosa, muito utilizado na indústria de perfumaria (presente inclusive no famoso Chanel no5). Teve seu auge nos anos 60, mas infelizmente o extrativismo desenfreado quase levou à extinção essa espécie, já que seu óleo é extraído do tronco. Essa árvore passou então a fazer parte de programas de reflorestamento e ganhou a proteção de lei quanto ao corte da madeira. Hoje a produção foi drasticamente reduzida e existem estudos para realizar a extração do óleo de suas folhas ao invés da madeira.
Atualmente, o Brasil é o maior exportador de óleos essenciais cítricos do mundo, principalmente o de Laranja. Isso porque os óleos são extraídos por meio da prensagem das cascas das frutas, sendo então um sub-produto da indústria alimentícia. É importante saber a qualidade desses óleos essenciais cítricos, uma vez que podem conter agrotóxicos e pesticidas. Dou sempre preferência a óleos essenciais orgânicos nesse caso.
Por possuir a maior biodiversidade do mundo, o Brasil é uma referência em óleos essenciais e um universo a ser descoberto. Temos a maior quantidade de espécies vegetais do planeta, e conhecemos apenas uma ínfima porção dos óleos essenciais presentes em nossa natureza. Por isso acho importante ajudar na divulgação de todos os benefícios que os óleos essenciais podem nos trazer e apoiar produtores locais, para alavancar o seu comércio e incentivar cada vez mais estudos e descobertas.
Nos próximos posts (e vídeos!) vou ensinar como comprar um óleo essencial de qualidade, falar sobre as propriedades de cada óleo essencial e dos carreadores, quais os principais usos e aplicações, produtos que possuem óleos essenciais nas suas fórmulas, enfim, assunto é o que não falta e fico muito feliz de poder compartilhar com vocês. Obrigada! 🙂